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Baú de Recordações | Anabela

Abrimos hoje o baú de recordações para relembrar a grandiosa actriz Anabela.
Anabela Gonçalves Ramos nasceu a 19 de Maio de 1946. Nunca teve a ambição de ser actriz nem nada parecido, mas tinha um enorme talento.
Depois de casada frequentava com o seu marido a boîte Porão da Nau, perto do Saldanha, onde se reuniam os artistas após as sessões teatrais.
Anabela mostrava ali todo o seu talento para a dança e acabaria por vencer um concurso de Yé-Yé. É então que o empresário Vasco Morgado repara na jovem esbelta, loura e talentosa. Convida-a a ingressar no elenco do Monumental várias vezes e em todas recebeu como resposta "Não!". Mas certo dia, após muita insistência por parte do empresário, Anabela aceitou a propsta.
Estreou-se então como Atracção com os "Rock's", na revista Esta Lisboa que eu Amo, em 1969. Aí deu os seus primeiros passsos na representação e agradou muito.
Tanto agradou que acabou por ser convidada a ingressar na companhia do Teatro Alegre. Aí, durante alguns anos, representou ao lado de grandes nomes como Henrique Santana, Ribeirinho, Maria Helena Matos, Costinha, Luisa Durão ou Irene Isidro e fez várias digressões por Portugal, África e outros locais.
Mas seria no Parque Mayer que o seu nome começaria a brilhar no cartaz. Frangas na Grelha foi o seu primeiro espectáculo no ABC, a convite de Tony de Matos, com quem havia contracenado no filme O Destino Marca a Hora, sua única ingressão no mundo do cinema.
Terminada a carreira da revista, a companhia do ABC começa logo a preparar novo espectáculo e acabam por estrear a revista Saídas da Casca, que contava com Maria do Céu Guerra como 1ª figura. Nessa revista Anabela teria um enorme êxito e continuaria no ABC com a revista Viva a Pandilha. É então que é convidada para ir para Companhia Giuseppe Bastos e Vasco Morgado, no Maria Vitória.
Aí conquista grande sucesso ao lado de Salvador.
Enquanto isso no ABC, Vítor Espadinha estrelava o maior fracasso da história do Teatro Português, Dura Lex, Sed Lex, a primeira produção de Sérgio de Azevedo.
O espectáculo sai de cena o Sérgio de Azevedo aposta então numa revista. Mas lá estava a crise de vedetas. Ivone Silva estava no Maria Vitória, Florbela Queiroz não podia, Aida Baptista estava ocupada... É então que o empresário resolve lançar Anabela como 1ª figura absoluta da companhia, ao lado de Nicolau Breyner. O sucesso não podia ter sido maior. É o Fim da Macacada foi um dos maiores sucessos de revista e permitiu a Anabela tornar-se numa das vedetas mais queridas do público.
O título da revista anunciava já o fim do regime ditatorial. Seguidamente ao fim da macacada Anabela cria no ABC um dos números que ficaria para sempre na história da revista: Cabaret. Inspirado no célebre número Money, protagonizado por Liza Minnelli e Joel Grey, no filme Cabaret, Gonçalves Preto escreveu uma letra, de grande impacte junto do público e de forte crítica política, a que deu o nome de Massa. Anabela e Vítor Espadinha chegavam a repetir oito vezes por noite o número e saiam de cena exaustos... Mas valeu pelo sucesso. Era aquele número que enchia o Teatro ABC noite após noite e que fez da revista P'ró Menino e P'rá Menina mais um êxito popular.
Anabela continua a ser um dos nomes de eleição do público. Está firme no teatro, o seu nome brilha nos cartazes, tem estatuto para ser primeira figura e é amada pelo público. 

E é na revista seguinte, Tudo a Nu, que cria o seu êxito total e absoluto. Charlot pode bem ser considerada a melhor criação de sempre no Teatro musicado, pela complexidade, pela graça e por Anabela ter conseguido superar um desafio que até hoje ninguém conseguiria!
É durante esta revista que se dá a revolução dos cravos e Tudo a Nu passou a ser Tudo a Nu com Parra Nova. Incluíram-se todos os textos que tinham sido cortados e isto permitiu que a revista continuasse carreira.
Sérgio de Azevedo continua a apostar, e muito bem, na sua vedeta. Ao lado de Ivone Silva vai estrelar Uma no Cravo, Outra na Ditadura, êxito estrondoso para a época, que se ficou a dever ao fim da ditadura.
Seguiu-se P'ra Trás Mija a Burra, onde o popular actor Carlos Cunha se estreou em revista, e depois desta peça transita para a companhia do Teatro Ádoque.
Aí continua a sua carreira de sucesso, mas uma queda no fosso da orquestra atiraria Anabela para uma reabilitação demorada. Só voltaria ao teatro em 1977 para substituir Ivone Silva em Oh da Guarda!.
Nesse mesmo ano Anabela perde os pais e uma irmã e entra num período de depressão total. Aí começa o seu declínio. Anabela que tinha um corpo escultural, começa a engordar e em 1982 o seu peso já rondava os 100kg.
Mesmo assim fez ainda a comédia O Gato, ao lado de Octávio Matos, e foi a grande atracção da comédia Chega P'ra Todas, com Vítor Espadinha, ambas no Teatro Laura Alves.
Depois disto, Anabela é atropelada e atirada para uma cama onde ficaria até morrer. Dizia muitas vezes, após pesar 200kg, que lhe bastava perder 100kg para regressar ao palco. Os seus "amigos" abandonaram-na, apenas alguns ainda visitavam Anabela e Maria da Fé chegou mesmo a organizar um espectáculo em honra e com os fundos a reverterem a favor da actriz. Para Anabela, a esperança de perder peso e voltar aos palcos crescia cada vez mais, principalmente quando apareceu o Dr. Tallon.
Infelizmente a morte foi mais célere e Anabela acabou por morrer, triste e desiludida, aos 45 anos.


Para a história da revista ficaram muitos dos seus números... Charlot, Cabaret, As Manas Pitacas, com Hermínia Silva, Marioneta, Miss Barracas, entre muitos outros. Anabela esfumou-se da memória das pessoas a quem deu muitas alegrias, mas não de todos. Hoje e sempre recordamos Anabela, porque quem foi realmente grande NUNCA é esquecido!