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Teatral-Mente Opinando 6 | Rir com os outros, no Tivoli

Teatro Tivoli BBVA. 14 de Abril de 2013 (17h). Meia sala.

Numa altura em que cada vez mais surgem peças de teatro de tão fraco interesse, eis no Tivoli uma comédia aparentemente simples mas que esconde, por detrás de um texto deliciosamente divertido, algo mais do que aquilo que o público consegue absorver.
A história gira em torno de seis pessoas com TOC's (Transtornos Obsessivos Compulsivos) diferentes que se cruzam na sala de espera do consultório do Dr. Cooper, que se diz ser uma sumidade no tratamento daquele tipo de problema. Branca, Pep, Camilo, Maria, Fred e Lili são todos eles diferentes, mas todos eles se tocam em algum ponto. Ao perceberem que o doutor não chega, iniciam então uma terapia de grupo e a partir daqui o público acompanha a tentativa destas seis pessoas conseguirem ultrapassar os seus problemas, em conjunto.
Manuel Marques surge-nos na pele de Camilo, um taxista que não consegue parar de fazer cálculos e que, depois de muita insistência por parte da esposa, se vê obrigado a procurar tratamento. O papel quase perfeito para um actor quase perfeito. Manuel Marques é um caso raro de talento, que tem vindo a crescer de dia para dia. Apesar de mais televisivo, não temos as expectativas goradas quando vemos o actor em palco, mesmo sendo a sua personagem completamente diferente daquilo a que estamos habituados a ver em Estado de Graça ou outros programas. Um verdadeiro talento, que consegue fazer notar a sua personagem.
Já Eduardo Madeira é um caso completamente diferente. Em palco, o actor suplanta-se. Na pele de Fred, um homem que sofre de síndrome de tourette e não consegue parar de dizer asneiras e fazer gestos obscenos, Eduardo Madeira arranca gargalhadas à plateia e mostra-nos um actor muito diferente daquele que estamos habituados a ver no pequeno ecrã, provando que é também ele um homem de palco. Poderá o leitor pensar, depois do que foi anteriormente dito, que apenas se atribui este elogio ao actor porque ele consegue fazer rir, nesta peça, recorrendo à graça fácil e brejeira. Desengane-se o leitor. Eduardo Madeira vai muito para além de um simples atirar de asneirolas e gestos... A forma como se movimenta em palco, como atira a asneira mostra que ali há mais que um simples conquistar do público por intermédio de métodos fáceis.
António Machado é já um experiente dos palcos e em TOC TOC tem uma interpretação genial, na pele de Pep, um maníaco por simetria. Um verdadeiro exercício de representação para o actor que, em palco, tem que saltar sobre mesas, cadeiras, papéis, tudo menos pisar o "riscado" tapete. António Machado supera o desafio com distinção.
Marina Albuquerque voltou à comédia com um papel que lhe encaixa na perfeição e que a actriz veste com mestria, apesar de outra coisa não ser de esperar pois o seu talento é já sobejamente conhecido. Lili, a sua personagem, tem um, por vezes irritante, TOC de repetição... Tudo aqui que ela diz volta a repetir e por vezes funciona como eco dos outros, repetindo as últimas sílabas. Apesar de, por vezes, a sua personagem ser meio esquecida, Marina Albuquerque consegue transformar Lili numa criação que arranca risos ao público.
A actriz Matilde Breyner, que injustamente não surge citada no cartaz, surge-nos nesta peça numa pequena intervenção, na pele da assistente do Dr. Cooper. Uma personagem que não chega para marcar a cena, por isso, achamos nós, Matilde Breyner será uma actriz a melhor aproveitar em futuras apostas da UAU e não só, pois o seu talento é já conhecido.
Por fim, temos aquelas que foram, para nós, as duas grandes "chaves" da peça: Ana Brito e Cunha e Maria Henrique.
Ana Brito e Cunha veste aqui a pele de Branca, uma personagem absolutamente hilariante e que demonstra bem as já conhecidas e aplaudidas capacidades de uma actriz que deveria ter mais oportunidades de mostrar o quão boa ela é. Aqui tem uma! E supera o desafio com 20 valores. Num profissionalismo total, Ana Brito e Cunha faz toda a peça de muletas, devido ao acidente que sofreu em Março, e numa personagem que atravessa a cena a correr e que nunca pára quieta. Um especial aplauso para Ana Brito e Cunha que consegue arrancar gargalhadas avassaladoras à plateia com a sua Branca, que tem horror a micróbios e doenças.
E, por fim, a grande Maria Henrique. A sua deliciosa Maria, uma beata com o TOC de verificação, é a responsável pelas maiores gargalhadas, e Maria Henrique mostra-nos, de novo, a sua especial apetência para a comédia, não falhando nunca! Do princípio ao fim, ela é genial e são duas horas de comédia! Mais não é preciso dizer.
Todos eles, encenados pelo já veterano Antonio Pires fazem de TOC TOC uma noite ou tarde de teatro inesquecível e que promete fazer esquecer, durante duas horas, todos os problemas a rir, que é o melhor remédio.
Servida por figurinos de muito bom gosto, assinados por Dino Alves, um cenários agradável e funcional, de F. Ribeiro, esta comédia foi escrita pelo francês Laurent Baffie e estreada em 2005, tendo feito enorme sucesso em vários palcos mundiais.
Em Portugal ficará em cena até fim de Maio no Tivoli e garantimos aqui que vale a pena ir ver TOC TOC. Será que estas seis pessoas conseguirão ultrapassar os seus problemas? Vá até ao Tivoli e descubra você mesmo... · TOC TOC > De Laurent Baffie; enc. de António Pires; cenografia de F. Ribeiro, figurinos de Dino Alves; produção UAU; com Ana Brito e Cunha, Manuel Marques, Maria Henrique, Marina Albuquerque, António Machado e Eduardo Madeira. Teatro Tivoli BBVA; Avenida da Liberdade, 182-A, Lisboa; T.1820. Qui-Sáb. às 21h30 e Dom. às 17h. 10€ a 20€.