
Teatro Villaret. 1 de Junho de 2014 (16h30). Sala cheia.
Foi em Novembro do ano transacto que o Villaret reabriu as suas portas para receber a comédia Caixa Forte, anunciada como a primeira da carreira de Fernando Mendes e como "um espectáculo que é um espectáculo". E, diga-se em abono da verdade, Caixa Forte é mesmo um espectáculo, na verdadeira acepção da palavra. Seguindo a sua antiga tradição das temporadas de comédia, o Villaret teve casa cheia durante 6 meses consecutivos, facto inédito e que há anos não se verificava, com este hilariante espectáculo. E dada por encerrada a carreira no Teatro erguido pelo inesquecível Raul Solnado, a peça segue agora para Portimão, onde estreia no início de Agosto, no TEMPO.
Numa peça 100% portuguesa, que segue as tradições mais enraizadas da comédia ligeira, com hilariantes "gags" e enganos que são receita certa para gargalhada certa, Fernando Mendes triunfa na sua primeira comédia, num registo totalmente diferente daquele a que o público se habituou a vê-lo no Teatro de Revista.
Batalha ganha para o revisteiro, que se afirma também como excelente comediante, contra algumas expectativas de detractores que, se foram até ao Villaret, ficaram "de cara à banda". Longe dos habituais estereótipos revisteiros mas não abdicando da sua cómica expressão corporal, o actor conseguiu criar com mestria o seu Rogério, o segurança da caixa forte de um banco, arrancando do público avassaladoras gargalhadas, que inundaram o Villaret. Sem menosprezar os restantes elementos do elenco, Fernando Mendes é o rei do espectáculo! Durante uma hora e meia o actor permanece sempre em palco, sem a sua cessar a sua enérgica performance e não permitindo que haja espaço para tempos mortos... Ele salta, dança, ri, choraminga, clama por comida e formula as mais loucas teorias que não cabem na cabeça de ninguém...
Carla Andrino triunfou no seu regresso ao Teatro, o seu habitat natural. Na pele de uma arrogante "rica" (que afinal não é tão rica assim, e o público que vir a peça irá perceber porquê), convencida que de que é dona e senhora do mundo, a actriz ombreia Fernando Mendes na tarefa de fazer o público chorar a rir, com uma figura que lhe cai como uma luva e que surge como o oposto do personagem principal. O homem do povo, segurança, bonacheirão, divertido, pouco inteligente e manipulável opõe-se a Luísa, a mulher da alta, que vive da fortuna do pai, arrogante, dona e senhora de tudo, inteligente e manipuladora...
E quando dois seres tão diferentes se vêm forçados a permanecer um fim-de-semana inteiro confinados a um espaço diminuto de onde não podem sair, a situação só pode originar um vendaval de gargalhadas. Com o timing de comédia perfeito, Carla Andrino prova-nos, uma vez mais, que está na linha das melhores comediantes portuguesas e afirma-se como uma das melhores e mais camaleónicas actrizes da sua geração.
Cristina Areia, parceira já frequente nas lides "Fernando Mendianas", surge-nos num papel um bocado mais pequeno que os restantes, mas curioso... Sobretudo, porque ninguém espera que ela apareça, dada a natureza da situação. Cristina Areia é uma excelente actriz, todos sabemos, mas destaca-se, sobretudo, em Teatro de Revista... Aqui, talvez por não ter uma personagem que entre no início da peça ou que talvez não lhe dê tanto pano para mangas, não consegue marcar, quanto baste, a cena, apesar da sua Aninhas mudar o rumo da história.
Por último, surge-nos Frederico Amaral, um jovem de talento que, parece-nos a nós, poderá continuar a evoluir com esforço e empenho. O seu Artur, o marido de Luísa, maltratado pela esposa, qual cãozinho amestrado debaixo da tutela da dona, acaba por ser uma personagem, inicialmente, pouco interessante, mas que se revela, posteriormente, o oposto daquilo que aparentava...
Num cenário simples mas muito agradável à vista e que acaba por resultar esteticamente e no contexto da situação, a acção desenrola-se ao longo de hora e meia em que a gargalhada não cessa e em que tudo, mas mesmo tudo, pode acontecer... Basta pensarmos que estão ali encerradas quatro pessoas de personalidades totalmente distintas e que vêm o mundo de janelas diferentes, mas que naquele fim-de-semana são obrigadas a conviver...
O texto, da autoria dos talentosos e conceituados Frederico Pombares, Henrique Dias, responsável também pela eficiente encenação da peça, e Roberto Pereira, não poderia ser melhor... É digno dos melhores elogios. Um estilo de comédia que está longe do habitual de Fernando Mendes, mas que é aposta ganha, trazendo-nos à memória os anos de ouro do Cinema Português e da Comédia tradicional Portuguesa, ligeira e repleta de divertidos enganos, situações hilariantes, personagens que fazem "flash" sobre o quotidiano, embora levadas ao extremo, e que nos fazem rir sem pensar em mais nada... Num estilo de humor tão nosso e, infelizmente, em vias de extinção, que dá vontade de prolongar a peça por mais duas ou três horas, só para continuar a beber um bocadinho mais daquele "rir à grande e à portuguesa". Viva a comédia portuguesa e bem-haja a esta companhia por nos trazer um pouco do ser português, a rir... · Caixa Forte > De Frederico Pombares, Henrique Dias e Roberto Pereira; enc. de Henrique Dias; produção Segredo Público; com Fernando Mendes, Carla Andrino, Cristina Areia e Frederico Amaral. Teatro Villaret, Avenida Fontes Pereira de Melo 30-A, Lisboa; T.213 538 586. Sex. e Sáb. às 21h30 e Sáb. e Dom. às 16h30. 20€.

Carla Andrino triunfou no seu regresso ao Teatro, o seu habitat natural. Na pele de uma arrogante "rica" (que afinal não é tão rica assim, e o público que vir a peça irá perceber porquê), convencida que de que é dona e senhora do mundo, a actriz ombreia Fernando Mendes na tarefa de fazer o público chorar a rir, com uma figura que lhe cai como uma luva e que surge como o oposto do personagem principal. O homem do povo, segurança, bonacheirão, divertido, pouco inteligente e manipulável opõe-se a Luísa, a mulher da alta, que vive da fortuna do pai, arrogante, dona e senhora de tudo, inteligente e manipuladora...

Cristina Areia, parceira já frequente nas lides "Fernando Mendianas", surge-nos num papel um bocado mais pequeno que os restantes, mas curioso... Sobretudo, porque ninguém espera que ela apareça, dada a natureza da situação. Cristina Areia é uma excelente actriz, todos sabemos, mas destaca-se, sobretudo, em Teatro de Revista... Aqui, talvez por não ter uma personagem que entre no início da peça ou que talvez não lhe dê tanto pano para mangas, não consegue marcar, quanto baste, a cena, apesar da sua Aninhas mudar o rumo da história.

Num cenário simples mas muito agradável à vista e que acaba por resultar esteticamente e no contexto da situação, a acção desenrola-se ao longo de hora e meia em que a gargalhada não cessa e em que tudo, mas mesmo tudo, pode acontecer... Basta pensarmos que estão ali encerradas quatro pessoas de personalidades totalmente distintas e que vêm o mundo de janelas diferentes, mas que naquele fim-de-semana são obrigadas a conviver...
