★★★☆☆
Teatro Armando Cortez. 28 de Maio de 2016 (21h30).
‘Allo ‘Allo! é a produção da Yellow Star Company – cuja actividade é louvável e digna do maior aplauso -, inspirada na célebre série televisiva que fez furor nos anos 80. Não sendo um prodígio de texto, é uma comédia que, apesar de alguns momentos mais enfadonhos - e que acabam por quebrar o ritmo do espectáculo –, vai conseguindo, mesmo assim, (re)captar o interesse do espectador e diverte com várias cenas caricatas, algumas perfeitamente hilariantes, que se desenrolam maioritariamente no Café René, durante a ll Guerra Mundial.
Apesar de alguma fragilidade, convém dizer que a tarefa de transferir uma série televisiva para o palco é complicada quanto baste, pelo que a adaptação de João Didelet merece uma palavra elogiosa, mais não fosse pelo facto de a ter conseguido realizar. Para além da adaptação, Didelet, em parceria com Paulo Sousa Costa, assina uma eficiente encenação que dispõe bem e cumpre a função, e surge no papel do protagonista René Artois, num desafio à sua altura e perfeitamente conseguido. Com uma incrível comunicabilidade com a plateia, os tempos perfeitos, a expressão física em equilibrada sintonia com a sua irresistível comicidade na forma de "atirar" a mais singela piada, é justo afirmar que é ele o grande pilar da comédia. “Dá o braço ao público” e merece, pela sua brilhante prestação, a maior ovação.
Melânia Gomes conquista-nos no papel da histriónica Yvette. Entre todo o elenco feminino é quem mais se destaca, pela positiva, num papel que lhe assenta na perfeição e a deixa brilhar, muito embora não lhe dê asas para espraiar todo o seu muito talento – ainda pouco aproveitado. Tem a seu favor uma fantástica expressividade e a graça natural, pisa o palco com firmeza e domina a cena como poucas, com a garra que lhe é característica. O público já sabe que o seu nome num cartaz é sinónimo de uma noite bem passada e leva consigo a vontade de aplaudir aquela que continua a ser menina querida e mostra, constantemente, que o palco é, indubitavelmente, o seu habitat natural.
Mara Prates revela-se, sem dúvida, uma surpreendente e brilhante revelação. Conhecida de algumas séries televisivas, em Teatro havíamos já aplaudido a sua prestação em Agarra, Que é Honesto!, no Maria Vitória. Volvidos quase 7 anos, Mara cresceu e tornou-se numa magnífica actriz, capaz de criar e compor bonecos de incrível comicidade, como a sua Mimi, e prender a plateia, com facilidade e perícia. É, sem dúvida, um nome a não esquecer e a aplaudir, com esperança de que o futuro lhe traga voos que desafiem as suas faculdades de grande actriz.
Elsa Galvão é nome conhecido nas lides teatrais e, geralmente, a sua mímica, a expressividade e uma certa fragilidade física conferem-lhe uma graça natural que fazem com que sobressaia naturalmente. A sua cena de cabaret perfila-se como uma das mais divertidas do espectáculo e arranca sonoras gargalhadas.
No elenco masculino, a par do protagonista, um destaque especial e um aplauso ao talento do brilhante actor Pedro Pernas, que se mostra capaz de compor figuras que o público capta, acompanha e leva na memória.
No conjunto, é certo que, pela negativa, destaca-se Suzana Borges, num desafio pouco conseguido. Muito mais teria por onde dar vida à personagem que lhe coube e que, no resultado final, acabou por não sair austera, como deveria, mas ligeiramente insonsa.
A favor da peça e do seu sucesso estão, ainda, o cenário e o guarda-roupa. A cenografia centra-se, essencialmente, no café René, colorido, capaz de agarrar o público e envolvê-lo na acção, contando-se ainda com um desenho de luz que ajuda a enquadrar o momento, sobretudo quando a acção se transmuta para os escritórios dos Nazis, com apontamentos cénicos e cortinas que deixam desaparecer o café. O guarda-roupa de época foi desenhado com bom gosto e bem executado.
Em suma, ‘Allo ‘Allo! é uma comédia que cumpre a função de divertir e proporcionar um momento de evasão, servida por um elenco, embora heterogéneo, coeso e que nos apresenta um produto final muito saboroso e digno de aplausos e muitas gargalhadas. · 'Allo 'Allo > De Jeremmy Lloyd e David Croft; enc. de João Didelet e Paulo Sousa Costa; tradução de Dina Rocha; adaptação de João Didelet, produção Yellow Star Company; com João Didelet, Elsa Galvão, Melânia Gomes, Filipe Crawford, Suzana Borges, Samuel Alves, José Henrique Neto, Pedro Pernas, Luís Pacheco, Mara Prates e Joana Câncio. Digressão Nacional.